Uma vêz que ninguém protestou, aqui vai a segunda história.
Espero que se divirtam a lê-las, tal como me divirto a recordá-las e a
escrevê-las.
Um abraço.
Carlos Galvão
Futebol maluco.
No final da década de 80, princípio da década de 90 praticavam-se no Songo
duas modalidades desportivas bastante sui generis.
Uma era o foot-vólei, jogava-se no relvado da piscina dos "casados" aos
domingos de manhã. Na prática era uma espécie de vólei de praia, dois
contra dois, rede no meio, mas podia-se jogar com qualquer parte do corpo
excepto com os membros superiores. Era um jogo cheio de souplesse e toques
de habilidade... havia lá uns craques, mas já perdi os nomes, nesta
confusão tremenda que dá pelo nome de memória.
Era tipo jogo em família, os homens a jogar, as esposas a ver, estão a ver
o quadro? Eu ainda joguei algumas vezes, mais como argumento para não
ficar na boite até às tantas de sábado do que por gostar do jogo,
porque... agora a sério, era um bocado abichanado!
Já o futebol maluco não tinha nada de abichanado, antes pelo contrário,
era jogo para homens de barba rija. Recordo que chegou a levantar alguma
celeuma entre as hostes dirigentes, porque, volta não volta, lá ía um
atleta parar ao hospital.
Tratava-se de uma espécie de futebol de salão em que não havia foras nem
cantos, as paredes funcionavam como tabelas (jogava-se no pavilhão da
escola secundária) e só se podia marcar golos de cabeça, logo, a bola
andava muito pelo ar, o que tornava o jogo particularmente perigoso.
Eu próprio tive duas experiências traumáticas no espaço de um ano.
A primeira, tinha acabado de chegar ao Songo em 89 para a minha segunda
comissão de serviço, durante um jogo fui disputar uma bola alta com o
Toninho Silva, que era mais pequeno do que eu para aí meio metro mas que
saltava que nem um gafanhoto, e zás...
O Toninho abriu o sobrolho (não me lembro já se foi suturado ou não) e eu
levei três pontos na tola. A primeira coisa que me veio à cabeça (além dos
pontos, claro) foi que tinha saído em 86 com o pé direito e regressado em
89... de cabeça.
A segunda experiência, meses mais tarde, aconteceu por causa do Teles. O
tipo estava isolado, ía marcar golo, e eu estava longe dele, a minha única
hipótese era tirar-lhe a bola com o pé. Vai daí, pimba...:
-Oh Teles, hás-de convir, essa cicatriz no sobrolho dá-te um certo charme,
devias estar-me grato...
Carlos Galvão.
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