do Songo.
Como calculo que estejam impacientes, aqui vai mais uma.
Um abraço e até breve.
Galvão.
Maravilhas...
Em 1989, contavam-se pelos dedos de uma mão, talvez de duas, os residentes
do clube (Centro Social da HCB no Songo).
Invariavelmente ocupávamos a mesa do canto do restaurante, junto às
janelas e, se fosse necessário, mais um ou dois lugares da mesa ao lado.
Quem nunca comia no restaurante era o Fernando Augusto, que tinha o
estaminé montado no quarto (e cá fora também), estaminé este que incluía
grelhador, mesa e cadeiras e até cozinheira privativa (lembram-se da
Zita?).
Naquela noite, estávamos a jantar eu, o Manel Azevedo, o Carlos Azevedo
(Carlinhos, que infelizmente já não está entre nós) e o David
(Maravilhas). Não me lembro já se o Capelão também estava na mesa ao lado.
É importante referir, para quem não sabe, que o Carlinhos era pessoa de
cultura acima da média e possuidor de um vasto vocabulário. Não me tenho
por parvo, mas uma vez chamou-me um nome que me obrigou a recorrer ao
dicionário para o entender. Já o Maravilhas era um contador de histórias,
perdão, o Maravilhas era o contador de histórias por excelência. As
histórias do Maravilhas eram contadas ao pormenor, e metiam gestos e sons
e tudo. Era um papelinho que só visto. O Paeta era grande apreciador das
histórias do Maravilhas.
A história daquela noite era de gosto duvidoso, aliás como a grande
maioria das histórias do Maravilhas, e não vem agora ao caso, mas
terminava com o Maravilhas a surripiar o casaco a um qualquer incauto.
O Carlinhos, que tinha estado calado até ali, virou-se para o Maravilhas e
disse:
-Pois é Maravilhas, tu sempre foste um gajo idóneo…
O Maravilhas olha para ele irritado e exclama em voz alta:
- Olha lá, tu pensas que eu sou da tua família ou quê? Eu não te admito
que tu me chames essa m…
Enquanto o Carlinhos o olhava boquiaberto, eu e o Manel chorávamos,
agarrados à barriga, de tanto rir.
Realmente, a língua portuguesa é muito traiçoeira.
Galvão.
